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Talvez, você já tenha ouvido falar que ter filhos e ser mãe ou pai andam paralelamente, mas em caminhos diferentes, isto é, não são sinônimos.
O que você pensa sobre isso? Pois bem, eu acredito nessa máxima, especialmente, após conhecer o livro Parenting from Inside Out, editado e traduzido para o português como “Parentalidade Consciente: como o autoconhecimento ajuda a educar nossos filhos?”. A obra é um excelente ponto de partida para aqueles que se questionam e desejam fazer a transformação de se tornar pais e mães mais conscientes.
Ser pai ou mãe envolve fazer escolhas, tomar decisões que impactam no cuidado, desenvolvimento e crescimento seguro dos filhos. No desempenho destes papéis, é comum nos questionarmos: Como não deixar os traumas que sofremos durante a infância afetar a nossa postura como pais? Como é possível não repetir os erros da criação que tivemos, quando crianças, com os nossos filhos?
O neurocientista, neuropediatra e psiquiatra americano reconhecido mundialmente, Daniel Siegel, e a especialista em educação infantil, Mary Hartzell, refletem na obra sobre como podemos obter essa mudança na criação dos nossos filhos. Segundo os autores, a transformação ocorre de dentro para fora, em cada um de nós. Esse livro foi inspirado em um curso de educação parental, criado pela Mary no Centro de Educação Infantil, e também no Seminário para Pais, criado pelos dois autores ‒ eventos nos quais eles observaram transformações relatadas e vivenciadas pelos participantes.
Se você me perguntasse qual o livro que, como mãe, pai ou educador parental, não posso deixar de ler, eu diria que é esse! Tomo a liberdade de dizer que considero Parentalidade Consciente uma espécie de bíblia, mas não com conotação religiosa, e sim por propor essa jornada de dentro para fora na parentalidade, mostrando que o sentido que damos às experiências e traumas da infância têm um efeito profundo na maneira como criamos os nossos filhos. Mostrando também que o autoconhecimento interfere na abordagem ao papel de pai e mãe.
Apego seguro
Imagine a parentalidade representada numa roda ou pizza, onde cada aro ou fatia significa uma das várias dimensões que, juntas, formam as relações parentais. Essas dimensões são apresentadas em cada capítulo e o leitor é convidado a exercitar a autoconsciência sobre como aprendeu na infância e como vive cada dimensão a partir de diferentes perguntas: Como nos lembramos? Como percebemos? Como sentimos? Como nos comunicamos? Como nos apegamos, na infância e na vida adulta? Como nos conectamos e reconectamos?
Durante a leitura, nos deparamos com conceitos, proposições, conclusões de estudos científicos e exercícios de reflexão que ampliam o autoconhecimento e permitem ao leitor se desenvolver para equilibrar os aros da roda ou pizza, embasados na relação entre a teoria da neurobiologia e as teorias psicológicas, em especial, a teoria do apego. Os autores apresentam os tipos de apego e destacam a importância do apego seguro no início da vida e seus impactos na vida adulta.
Essa abordagem articula conceitos e práticas, resultantes de anos de estudo, pesquisas e vivências clínicas e educacionais, desenvolvidas por Daniel Siegel e denominadas por ele de neurobiologia interpessoal, a qual segue princípios do entendimento interno e da conexão interpessoal. É uma abordagem que nos leva a olhar para as relações que estabelecemos: eu comigo e eu com o outro, e está pautada em cinco pilares fundamentais.
Para que possamos ter um gostinho de como este livro pode nos auxiliar no nosso processo de aprimoramento como pais e mães, ou educadores parentais, apresento os cinco pilares da abordagem da neurobiologia interpessoal para a parentalidade e proponho exercícios de autorreflexão:
Exercitando este pilar, reflita:
● Quais descobertas você tem feito na sua JORNADA PARENTAL?
● Você lembra de algo que você mudou na sua maneira de pensar com a experiência parental?
Normalmente focamos só nos comportamentos e não no que o outro está entendendo ou o que está necessitando. Mindsight implica em entender nossos pensamentos, sentimentos, percepções, sensações, lembranças, crenças, atitudes e intenções, assim como nas ações dos outros. Os pais que focam no nível mais profundo da mente dos filhos cultivam o desenvolvimento da compreensão emocional e da compaixão. Proponho que você exercite refletir sobre uma fala comum dos filhos: Se seu filho lhe dissesse “eu não te amo mais”, o que você sentiria, pensaria, faria?
A proposta do livro é auxiliar os pais a entenderem e educarem seus filhos, crianças e adolescentes, de maneira saudável e compassiva. Isso não significa permissividade ou deixar os pequenos fazerem o que quiserem. Ao contrário, o livro serve como um guia para o exercício da parentalidade de forma plena, consciente e responsável, transformando nossos pensamentos e nossas ações em relação às situações passadas, em especial de nossa infância e traumas que vivemos, evitando erros futuros e cultivando o apego positivo nas crianças.
Para pais leigos, o livro apresenta dicas importantes para refletir sobre suas atitudes e oferece alternativas e oportunidades para tomar, ou não, novas decisões evitando repetirmos com nossos filhos traumas de nossa infância, que estão internalizados e cristalizados em nossa mente, mesmo sem querer.
Para os profissionais da educação parental, oferece caminhos para auxiliar os pais, educadores e cuidadores a se autoconhecerem, tornando-se mais equilibrados e conscientes, para que possam contribuir para que as crianças se desenvolvam e cresçam fortes, resilientes e realizadas.
Para encerrar, deixo aqui um convite para que você leia Parentalidade Consciente e, com a leitura, possa conhecer os 5 pilares, os tópicos que destaquei neste artigo e muitos outros conteúdos fundamentais que permitirão que você se conecte com os seus caminhos parentais através dos seguintes passos:
Reflexão sobre a parentalidade recebida por nós na infância e traumas que ficaram internalizados em nossa mente.
Decisão de manter ou não o que recebemos.
Repensar em como vamos educar nossos filhos.
Traçar uma linda trajetória de autoconhecimento.
Construir conexões interpessoais familiares conscientes.
Que bons ventos nos conduzam pelos caminhos da parentalidade!
Texto: Daniela Hoppe de Abreu | Canguru News
Crédito de foto: Acervo Canguru News
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